Autor(a), Nelvina Barreto

A Esperança é sagrada!!!
Excerto de Prefácio de Augusta Henriques
Integrando uma centena de pequenos artigos de opinião em forma de crónicas, este livro constitui uma espécie de diagnóstico do estado da nação e, simultaneamente, lições de boa-governação, que poderiam fazer parte de um guia de boas-práticas de governança para a democracia e o desenvolvimento sustentável de um país com as riquezas naturais e culturais como o nosso. São lições ou conselhos que, se forem acatados, poderiam ajudar a moralizar não só a classe política, como toda a sociedade.

“Sementeira de Esperança” faz uma abordagem crítica da situação do nosso país e dos desafios que enfrentamos para promover o bem-estar e dar um futuro condigno a esta terra e ao seu povo. Lendo estas crónicas nos apercebemos da diversidade, da complexidade e da real dimensão das problemáticas abordadas, que se conjugam e intensificam em cadeia, num círculo vicioso difícil de romper.
Face a todos estes desafios, cultivar a esperança acaba por ser uma utopia. Mas é a última pista de saída deste estado de degradação em que nos encontramos e a Nelvina tão bem descreve. Só com a força da crença da juventude é que poderemos abrir caminhos nessa direção. Porém, a minha geração tem a sua cota-responsabilidade. A nós nos incumbe relembrar a nossa trajetória, individual e coletiva, retirar as lições que dela se impõem e partilhá-las com a nova geração. Talvez sirvam de fonte de aprendizado, de inspiração para fazerem o seu próprio caminho em direção aos seus sonhos, dentro ou fora da sua terra, mas com ela no seu coração e como parte fundamental do seu ADN.
Sabendo que a Guiné-Bissau ainda tem tudo para ser um paraíso, o nosso paraíso: recursos naturais abundantes e ecossistemas ainda produtivos, cultura viva e dinâmica, comunidades que conhecem e ainda estão arraigados à sua terra, uma história recente de unidade e luta que nos elevou coletivamente e inspirou o mundo!
Sim, a Guiné-Bissau ainda tem tudo para ser o nosso paraíso! Só lhe falta homens e mulheres com cabeça e coração para assumirem coletivamente o seu destino, o seu futuro.
E onde é que podemos encontrar esses seres excecionais com os quais “desatolar” o país e dar-lhe direção certa, para um futuro de paz e progresso, de dignidade, com que sonharam os nossos fundadores e ao qual aspira o nosso povo? Por onde começar a inverter a tendência atual de destruição do projeto de Nação livre e independente, na base da unidade e luta, legado de Amílcar Cabral, pai da nossa Nação?
Entre outras ações, Nelvina insiste na juventude e no papel da educação/formação. Porém, como o mal que corrói o nosso país tem contaminado todos os sectores e camadas sociais, fica difícil equacionar reais soluções para além de enumerar uma lista de diretivas que expressam mais nossos “desejos” do que ações com um mínimo de probabilidade de se traduzirem em realidade. Isto porque toda e qualquer proposta ou iniciativa com real potencial transformador, no sentido de erradicar a corrupção e outros males de que enferma a nossa sociedade, é abortada à nascença, pois acaba por esbarrar, infalivelmente, com a falta de vontade política e o demissionismo generalizado da nossa população.

É certo que a juventude é o principal motor de uma sociedade e nele reside o seu mais elevado potencial transformador. E a educação é um vetor poderoso de mudança. Contudo, não se trata apenas daquela educação/formação/capacitação que é vista como algo que nos é dada. Há que deixar de lado a perspetiva “delivery”, ao qual nos habituámos e que nos coloca numa situação de pedintes, de objetos da transformação. Temos de inverter esta tendência e promover uma educação transformadora onde somos atores, somos sujeitos da nossa própria educação, como defendia o Professor Paulo Freire naqueles tempos que os nossos poetas designaram “Momentos primeiros da reconstrução”[1].
A ponta por onde iniciar este processo está, a meu ver, na família, na comunidade. Os valores que precisamos de erigir para moralizar a nossa sociedade devem ser cultivados, antes de tudo, no núcleo da família, onde todos aprendemos o amor, a solidariedade, a ética, a justiça, a lealdade… Não apenas como princípios defendidos, mas como prática vivencial.
Todos nós temos um núcleo familiar, uma comunidade de pertença. É o que está ao nosso alcance para mudar. Porque não podemos esperar lideranças, práticas governativas, que não tenhamos cultivado no nosso seio. Não existe uma raça de políticos, ou de militares, ou de todos aqueles que nós designamos para exteriorizar a responsabilidade pela condução dos nossos destinos. O “Homem honrado” que a minha avó defendia e me ensinou a respeitar, é uma espécie em vias de extinção nos tempos que correm. Até hoje, esta ideia de “Homem honrado” me serve de baliza para delimitar as fronteiras da minha vida e as escolhas que nela faço, tanto na minha família, como nas organizações nas quais tenho trabalhado, na sociedade da minha pertença, no país que abraço. É a minha coluna vertebral.

Como restaurar este material humano, com o qual repovoar a Guiné-Bissau com o “Homem-honrado” da minha avó e o “Homem-novo” defendido por Amílcar Cabral e Paulo Freire como condição para a Independência da nossa terra fazer sentido?
Hoje, há que olhar para o nosso passado com olhos do futuro, e resgatar tudo aquilo que nos pode ajudar a construir esse futuro. Há que se inspirar nos valores do “Homem-honrado” e no projeto do “Homem-novo” para repovoarmos a nossa terra com cidadãos trabalhadores, sérios, dignos, conscientes e responsáveis, que amam e cuidam da sua terra e mantêm com ela um compromisso acima de todo e qualquer interesse individual, corporativista ou comunitarista.
Ética, é a riqueza maior que a nossa terra precisa para ter futuro. É onde reside a nossa esperança!
Bissau, 17 de março de 2023Augusta Henriques
[1] Momentos Primeiros de Reconstrução, antologia poética

Nelvina Barreto nasceu em Bolama, na Guine Bissau, a 27 Outubro de 1963.
Cresceu em Moçambique, na cidade da Beira e regressou com a família a Guine Bissau independente em 1975, tendo estudado e concluído o ensino secundário no Liceu Kwame N’Krumah.
Em Portugal estudou Direito na Faculdade de Direito de Lisboa.
Graduou-se em Gestão de Projetos através da Open University e estudou Inglês na International House em Londres.
Para além do Português e Crioulo, fala e escreve Francês e Inglês.
Desde 1995 vem desenvolvendo a sua actividade profissional na gestão de programas e projectos de desenvolvimento financiados por instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial, a União Europeia e o Banco Africano de Desenvolvimento, sendo por isso conhecedora profunda dos instrumentos financeiros e mecanismos de funcionamento das instituições multilaterais de desenvolvimento.
Na Guine Bissau, foi responsável de vários projectos de desenvolvimento em sectores diversos como a educação, o desenvolvimento comunitário e a boa governação, tendo sido nomeadamente:
– Directora Nacional da organização britânica VSO-Voluntary Service Overseas (durante 4 anos)
-Coordenadora do Projeto de Apoio ao Ensino Básico-Firkidja, financiado pelo Banco Mundial (durante 5 anos);
-Coordenadora do Projeto de Desenvolvimento Dirigido pelas Comunidades- PDDC, financiado pelo Banco Mundial (durante 3 anos);
– Consultora do NDI-National Democratic Institute, em programas de formação dos membros da ANP e de outras entidades estatais;
Em 2009 candidatou-se para um posto internacional junto ao Banco Africano de Desenvolvimento- BAD, onde trabalhou durante 2 anos na sede da instituição em Tunes-Tunísia, tendo sido posteriormente transferida para Angola, onde trabalhou durante 4 anos como responsável da carteira de projetos e de programas do Banco Africano de Desenvolvimento e desenvolveu e aprofundou a sua experiência em matéria de ciclo de gestão de projectos, seguimento e avaliação e questões de género.
Em 2015, na sequência da realização das eleições de 2014 que despertou um novo alento e muita esperança nos guineenses, Nelvina Barreto solicitou licença sem vencimento ao BAD para regressar a Guine Bissau e contribuir na medida das suas possibilidades para o relance económico e social do seu Pais.
Foi assim que em Agosto de 2015 foi nomeada como responsável do gabinete de coordenação do Programa Estratégico e Operacional Terra Ranka, sob a supervisão do Secretario de Estado do Plano e Integração Regional- Ministério da Economia e Finanças, ate Outubro de 2016.
De Janeiro de 2017 ate Novembro de 2018, trabalhou como consultora da FAO num projecto destinado a reforçar a capacidade de resiliência das associações femininas nas zonas rurais da Guine Bissau. Foi responsável pela condução das atividades de criação de Caixas de Resiliência para as associações femininas em 4 regiões do Pais – Oio, Gabu, Cacheu e Quinara.
De Janeiro a Junho de 2019, prestou serviços de consultoria enquanto coordenadora de programas e simultaneamente responsável do escritório de ligação do BAD na Guine Bissau.
Atualmente e Consultora Sénior na Unidade de Desenvolvimento Sustentável do PNUD.
Nelvina Barreto tem igualmente uma larga experiência de trabalho com as organizações da sociedade civil na Guine Bissau, tendo servido como primeira secretaria executiva da Plataforma das ONGs da Guine Bissau- PLACONG, foi membro do conselho de administração da ONG ENDA-Tiers Monde, coordenadora da MIGUILAN-organização de mulheres guineenses na Guine Bissau e na Diáspora, entre outras responsabilidades a nível da sociedade civil do Pais.
No âmbito do trabalho com as redes associativas femininas na Guine Bissau, Nelvina Barreto tem participado ativamente em ações destinadas a exercer pressão nos decisores políticos e mobilização da sociedade no domínio da estabilidade, paz e reconciliação assim como da igualdade e equidade de género, tendo culminado com a aprovação da Lei da Paridade.
Nelvina Barreto e membro fundador do Partido da Unidade Nacional- PUN em 2002, do qual foi Secretária-geral, ocupando neste momento as funções de Vice-Presidente do Partido. Concorreu como candidata a deputada para o circulo 28 nas eleições legislativas de Marco de 2019.
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